sexta-feira, agosto 17, 2007

Isto não é jornalismo!

Caríssimos:
Se eu, neste blogue, me der para afirmar que o Alberto João Jardim devia ser rei do arquipélago independente da Madeira (ou melhor ainda, se disser que é isso mesmo que ele pretende), provavelmente estarei a emitir um grande disparate (ou não...). Se quiser ilustrar a minha opinião, por exemplo, com esta imagem -------------------------»

a responsabilidade é minha. Aquilo que aqui disser e/ou mostrar, só me compromete a mim, e a mais ninguém. Depois... vocês levam a sério... ou não.
Porque isto é apenas um blogue pessoal. Não é um órgão de comunicação social.
O que estou aqui a fazer não é jornalismo (embora, em casos pontuais, o possa ser - mas não é esse o objectivo).
No entanto...

se a RTP (empresa pública de rádio e televisão portuguesa) afirma que o presidente venezuelano Hugo Chavez alterou a lei eleitoral do seu país com o objectivo de se perpetuar no poder... desculpem lá, mas isso não é jornalismo!
Enfim, o jornalista que redigiu a notícia até pode ter essa opinião. E será livre de a exprimir... caso tenha, por exemplo, uma coluna de opinião num qualquer órgão de comunicação social, ou... por exemplo, um blogue.
Mas nunca numa "notícia"! É "dos livros" (e está, aliás, consagrado no Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses): não se mistura informação - que se pretende o mais objectiva possível - com opinião.
E notem que eu até nem sou adepto do Hugo Chavez (também não sou opositor... falaremos sobre isso noutra ocasião). Sou adepto, sim, de um jornalismo rigoroso e independente.
Sei que exercê-lo não é fácil.
Mas, se o fosse, qual era o interesse?


(Se querem saber algo mais sobre os apoiantes de Hugo Chavez, e sobre as suas argumentações, visitem tirem-as-maos-da-venezuela.blogspot.com/ - onde podem encontrar também ligações para outros locais de conteúdos relacionados com esse.)
Fotos:

6 comentários:

Pata Negra disse...

Então meu caro Vitorino, mas esse jornalismo com opinião semi-encapuçada infelizmente é mais a regra que a excepção! Só agora acordou! Também não ponho as minhas mãos no lume pelo Chavez mas muito menos tirarei as minhas conclusões acerca da revolução venuzuelana através dos media do regime cá da casa!
Um abraço

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Lembras-te de não concordares que nas eleições presidenciais timorenses em que o Ramos Horta foi eleito não houve manipulação? Lembras-te de apostares que a Fretilin ganharia as últimas eleições? Pois bem, tinhas razão em relação à segunda... A Fretilin ganhou as eleições! Mas o recém posto Presidente Ramos Horta não chamou a Fretilin para formar governo. Convidou o Xanana que fez uma coligação pós eleitoral na qual o povo não votou. Porque será?

Estamos a fazer um novo Livratemundo em livratemundo.wordpress.com - dá lá um pulo - publicámos um artigo sobre a actual situação em Timor.

Quanto a esta questão da Venezuela - para mim é óbvio que a comunicação social está em geral ao serviço do Imperialismo. E já te disse várias vezes que não acredito em jornalismo independente. O jornalismo, assim como outras áreas essenciais, está controlado pelos interesses da classe dominante (a minórica grande burguesia). Eu preferia que estivesse controlado pelos interesses da classe trabalhadora (a maioria).

A teu desejo por um jornalismo independente (isto admitindo o impossível) não resultaria em mais do que um jornalismo tendente a tentar conciliar classes com interesses antagónicos: o que inevitavelmente beneficiaria, como agora, a actual classe dominante, que é, repito, a grande burguesia.

Enfim acreditar num jornalismo independente é a mesma coisa que acreditar na autonomia do Estado em relação à classe que o domina. Quem não vê isto é idealista.

Jorge

Debaixo do Bulcão disse...

João Rato:
Quando comecei a trabalhar como jornalista (em 1992), tive a sorte de apanhar um período em que os profissionais do sector se questionavam sobre o exercício da profissão. Foi depois da (agora) chamada "primeira Guerra do Golfo", quando os jornalistas foram "papados" (e outros se deixaram "papar", é verdade) e, por terem tido consciência disso mesmo, iniciaram então um debate profundo, e profícuo, que deu origem,entre outras coisas, à recusa de uma "Ordem dos Jornalistas" (que se tentou criar nessa altura) e à elaboração do Código Deontológico.
Portanto, respondendo à sua pergunta (se é que se tratava de uma pergunta...) não, não acordei agora! Já ando nisto há algum tempo!
Se só falei agora é porque a RTP me deu (agora) um excelente pretexto. Não significa que não tenha estado atento ao que se passa no sector da comunicação social. Não posso é estar sempre a reagir a coisas dessas. Se o fizesse, não faria mais nada. Não lhe parece?

Cumprimentos!

António Vitorino

Debaixo do Bulcão disse...

Jorge:

Tu dás-me sempre água pela barba, com os teus comentários. Não estás à espera que eu responda aqui a tanta questão que levantas de uma assentada, pois não?
Enfim, deixa-me só chamar-te a atenção para o facto de ter dito que o jornalismo deve ser "o mais objectivo possível". Sei muito bem que a objectividade, a imparcialidade e a independência - tudo isso é relativo.
Como tu deves saber muito bem (porque já nos conhecemos há muito tempo) antes de ser jornalista tive uma experiência muito enriquecedora como propagandista.
Portanto, sinto-me perfeitamente à vontade para falar sobre as duas áreas, sobre os pontos de contacto e sobre as divergências entre as duas linguagens.
Não me parece nada de extraordinário pedir (melhor, exigir) a um jornaista que não confunda opinião com notícia.
É uma questão de ética profissional, aqui ou na Venezuela.
Aliás, porque é que o Chavez mandou fechar um certo canal de televisão? Não foi porque eles "confundiram" informação com apelos e incentivos a um golpe de estado?

Vitorino

Debaixo do Bulcão disse...

Ah, pois, a propósito da Venezuela, do Hugo Chavez e da "revolução bolivariana socialista"...

O presidente da Venezuela foi eleito por sufrágio universal, em eleições que, segundo os critérios das "democracias ocidentais" até foram "livres e justas". Querem mais legitimidade?

Eu não acredito que a "salvação" da Humanidade (ou a derrota do capitalismo...) venha da América Latina. Mas desejo muitas felicidades aos venezuelanos e espero que o processo político em curso naquele país dê bons resultados e seja inspirador para os povos da região.
Nós aqui vivemos uma realidade diferente.

As revoluções não se exportam. (Lembram-se do resultado que deu quando se tentou aplicar modelos europeus em África?)

Como dizia um slogan cubano do final da década de 80 do século XX:

CADA POVO É LIVRE DE ESCOLHER O SEU CAMINHO!

Portanto, tirem as mãos da Venezuela, sim. Mas não me venham dizer que o "socialismo bolivariano é um modelo a seguir.

António Vitorino