Estrelando: Henrique Mendes, Ana Maria Lucas, Tonicha, António Vitorino, Nuno Gomes dos Santos.
Corria esse já muito remoto ano de 1971. Estava o António Vitorino com a família (enfim, uma parte dela, mas isso é outra estória) frente à televisão, que na altura só tinha dois canais (o primeiro e o segundo, mas o segundo não se apanhava lá muito bem) e era a preto e branco.
Estavam todos ali reunidos para ver o Festival RTP da Canção. Ver o Festival RTP da Canção era um ritual que as famílias faziam nesses tempos de obscurantismo.
Começa então o Festival RTP da Canção de 1971.
Entram os apresentadores, Henrique Mendes (não sei se conhecem, mas conhecem de certeza a sua prole) e Ana Maria Lucas.
Eles entram e, como lhes compete, apresentam os concorrentes.
Primeiro, aparece uma tal de Daphne ou lá o que era, a cantar já não sei o quê.
A seguir entra uma jovem chamada Tonicha.
Espera aí, uma jovem chamada Tonicha?
Pois.
É então que (momento histórico!) o António Vitorino (que, nessa altura, tinha apenas 7 aninhos, tenham isso em conta) dá um salto na cadeira, aponta para o écran do televisor (que, lembrem-se disto, era ainda a preto e branco) e diz (aliás, exclama, que é mais literário) é esta! é esta que vai ganhar!!!
Depois o festival lá continuou, aparece um grupo chamado Intróito, com um tal de Nuno Gomes dos Santos (não sei se conhecem... o António Vitorino era ainda muito pequenino para o conhecer...) depois aparecem outros e tal, por aí fora... tudo coisas sem interesse.
É que, como devem compreender, desde que apareceu aquela rapariga chamada Tonicha, o resto perdeu todo o interesse.
Pronto, chega aquela altura da votação, há ansiedade no ar, um clima de suspense e essas coisas. Mas o António Vitorino já sabia que quem ía ganhar era a Tonicha.
E, obviamente (duvidam das capacidades proféticas do António Vitorino?), a Tonicha ganhou!
E o António Vitorino passou desde então a apaixonar-se por todas as Tonichas que lhe apareciam à frente.
Portanto, está tudo explicado!
Ah pois, a canção que ela interpretou chama-se "Menina", e é assim:
Menina de olhar sereno
raiando pela manhã
de seio duro e pequeno
num coletinho de lã.
Menina cheirando a feno
casado com hortelã.
Menina que no caminho
vais pisando formusura
levas nos olhos um ninho
todo em penas de ternura.
Menina de andar de linho
com um ribeiro à cintura.
Menina da saia aos folhos
quem te vê fica lavado
água da sede dos olhos
pão que não foi amassado.
Menina do riso aos molhos
minha seiva de pinheiro
menina da saia aos folhos
alfazema sem canteiro.
Menina de corpo inteiro
com tranças de madrugada
que se levanta primeiro
do que a terra alvoraçada.
Menina de fato novo
ave-maria da terra
rosa brava rosa povo
brisa do alto da serra.
(Poema de José Carlos Ary dos Santos
Música de Nuno Nazareth Fernandes)
PS 1 - Já sei que alguns "jovenzitos" arrogantes vão dizer coisas bonitas sobre isto tudo e mais ainda sobre o que vem a seguir.
Mas para esses tenho duas "palavrinhas": descansem, que vossos filhos hão-de achar muito bonita a vossa época e muito edificante tudo o que vocês fizeram; por outro lado, lembrem-se que há sempre um balde de merda para cada arrogante ("jovenzito" ou não) e, se não houver, arranja-se.
PS 2 - Para quem me conhece (inclui "jovenzitos" arrogantes, mas não só): se eu não faço voz grossa, não me ponho em bicos de pés e não me esforço por parecer interessante, não é porque não o consiga fazer, mas apenas porque não estou para ser confundido com imbecis e filhos da puta.
No entanto, se quiserem saber mais alguma coisa a meu respeito perguntem com jeitinho, que eu talvez vos esclareça. Mas não inventem, senão ainda terei que vos dedicar este poema do Affonso Gallo.
5 comentários:
Claro que isto é também uma homenagem ao Ary dos Santos. E aproveito para emendar um erro de ortografia na transcrição do poema: é formosura (e não "formusura", como lá está escrito). A transcrição não é minha: limitei-me a copiar de outro site.
A.V.
Aqui só para a malta, nunca pensaste fazer concorrência ao professor Bambo e companhia?
Também adivinhas números ou sou vencedoras de festivais (o euromilhões até dava jeito...).
Pensei que a pergunta era se eu não queria fazer concorrência ao meu homónimo na RTP (e, já agora,ao outro "marreta" na mesma emissora).
E se eu conseguisse adivinhar os números do euromilhões não estava a esta hora a escrever neste computador manhoso.
;)
A.V.
So e pena que o amigo so consiga adivinhar estas coisas de cantigas!
Um abraco d'Algodres.
E mesmo assim nem sempre, caro Al Cardoso...
Este ano, por exemplo, não adivinhei.
Espera aí, mas eu este ano também não vi o Festival... Deve ter sido por isso...
A.V.
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