Os tempos modernos não começam de uma vez por todas.
Meu avô já vivia numa época nova.
Meu neto talvez ainda viva na antiga.
A carne nova come-se com velhos garfos.
Época nova não a fizeram os automóveis
Nem os tanques
Nem os aviões sobre os telhados
Nem os bombardeiros.
As novas antenas continuaram a difundir as velhas asneiras.
A sabedoria continuou a passar de boca em boca.
Bertolt Brecht
(1898 - 1956)
Biografia, na Wikipédia
pt.wikipedia.org/wiki/Bertolt_Brecht
Uma antologia poética:
www.culturabrasil.org/brechtantologia.htm
terça-feira, março 27, 2007
domingo, março 25, 2007
An dauínare ize...
O Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar, visivelmente surpreendido pelo resultado do plebiscito, no qual o Bom Povo Português, chamado a pronunciar-se, espontaneamente nomeou Sua Excelência como o Maior Português de Sempre.
(Esta tão expressiva quanto oportuna imagem foi captada pelos nosso colegas do Água Lisa, a quem fazemos a devida vénia.)
(Esta tão expressiva quanto oportuna imagem foi captada pelos nosso colegas do Água Lisa, a quem fazemos a devida vénia.)
Nota: este post deve ser lido ao som daquela parte coral da Nona Sinfonia de Beethoven, vulgarmente conhecida como o Hino da União Europeia. Aconselha-se bater simultaneamente com a cabeça numa parede perto de si, repetidas vezes, parando apenas quendo a quantidade de estrelas visíveis for de 27, nem mais nem menos.
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deves estar a gozar comigo,
politiquice
sábado, março 24, 2007
sexta-feira, março 23, 2007
Uma reflexão para o fim de semana:
«Não há burros malucos.
Por isso temos de optar
entre ser burros
ou malucos»
José Hermano Saraiva, entrevistado no programa da Escola Superior de Comunicação Social (RTP 2, 23 Março 2007).
Citado de memória. Ou seja: o que ele disse foi isto, mais coisa menos coisa.
Por isso temos de optar
entre ser burros
ou malucos»
José Hermano Saraiva, entrevistado no programa da Escola Superior de Comunicação Social (RTP 2, 23 Março 2007).
Citado de memória. Ou seja: o que ele disse foi isto, mais coisa menos coisa.
quinta-feira, março 22, 2007
André, ou uma fábula para os nossos tempos
andré (que em tempos foi um jovem escritor
mas hoje já não o é) procura
emprego (ou talvez mesmo trabalho)
nestes tempos conturbados & de crise acerrimamente cerrada.
ele (que julga ter ainda "o dom da palavra")
já procurou nos jornais regionais
e a seguir nas rádios regionais
mas os jornais e as rádios regionais só aceitam
(poucos) recém-licenciados de preferência daqueles que pensam
que abu dhabi é uma piada dos desenhos animados que os pais viam
que um falacioso é alguém qua fala fluentemente (está-se mesmo a ver)
e que escrevem
com cê aquilo que o victorino usa
nos (raros) dias em que se enforca com uma gravacta.
é um fato
que vivemos hoje muito mais esfomeados
ó meus caros predatórios concorrentes, diz andré.
por isso (sua triste conclusão) apenas lhe resta
inscrever-se no concurso público da câmara
alimentar-se talvez do lixo municipal
e de vassoura na mão
ser um "escrivão da pena grande"
(como certamente não lhe chamaria alexandre o'neill).
António Vitorino
Cf. o poema "Formas da Violência", de Alexandre O'Neil,
num outro blog:
spectrum.weblog.com.pt/arquivo/2004/11/formas_de_viole.html
terça-feira, março 20, 2007
Mas isto é um escândalo!!! Será que nem na Autoridade podemos já confiar??? Quem nos acode, senhores?!!!
(notícia de um jornal que é distribuído gratuitamente em Almada):
«A Esquadra de Investigação Criminal (EIC) da PSP de Almada voltou a colher frutos do seu exaustivo trabalho na contrafacção de material, à venda em feiras e mercados.»
Manual de instruções para os que não entenderam:
1- releiam o texto com atenção
2- procurem o significado da palavra contrafacção
3- voltem a ler o texto com atenção
(E não me peçam para explicar melhor a piada.
Eu não sou nenhum gato fedorento.)
«A Esquadra de Investigação Criminal (EIC) da PSP de Almada voltou a colher frutos do seu exaustivo trabalho na contrafacção de material, à venda em feiras e mercados.»
Manual de instruções para os que não entenderam:
1- releiam o texto com atenção
2- procurem o significado da palavra contrafacção
3- voltem a ler o texto com atenção
(E não me peçam para explicar melhor a piada.
Eu não sou nenhum gato fedorento.)
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domingo, março 18, 2007
Detesto admiti-lo, mas o gajo dos Moonspell tem razão quando diz
em entrevista à P'Almada, revista da Divisão da Juventude da Câmara Municipal de Almada:
«Almada sempre foi aquele grande pulmão criativo das coisas mais alternativas. Se querias saber o que se passava, ias a Almada.»
(Depois, faz uma referência aos Capela das Almas, que considera a melhor banda gótica de sempre em Portugal.
E prossegue:)
«Não sei como é hoje em dia, parece-me que, infelizmente, não tem aquela efervescência que tinha naquele tempo em que se ia ao Ponto de Encontro e estavam os Noctivagus a ensaiar cá em baixo, depois estava em cima não sei quem a fazer isto e depois estava outro a fazer... era uma coisa muito engraçada!
Na altura vivia na Brandoa e não havia nada disso, havia Moonspell a lutar com a Junta de Freguesia e a Câmara para não nos despejarem de onde estávamos e nós tinhamos inveja de Almada porque por muito modestas que fossem as condições pelo menos não havia aquela supermacia do género "isto não nos interessa para nada!".
Sempre houve, modesto ou elevado, uma espécie de investimento e não estou só a falar de dinheiro, de dependência das Câmara, porque pessoalmente nunca estou a contar com nada vindo que não seja só do nosso trabalho, do nosso esforço»
E, para finalizar as considerações sobre Almada:
«Basta ir no barco que vai logo pessoal de cabelo comprido, gótico, é assim uma cena muito engraçada nesse aspecto! A primeira maqueta de Moonspell foi gravada em Almada!
Nós por exemplo nunca tocámos no Ponto de Encontro, foi uma lacuna na nossa carreira, mas vi lá grandes concertos, a Feira do Metal e montes de coisas que existiam ali e em mais lado nenhum.»
(Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, em declarações à revista P'Almada, Março 2007.Os sublinhados a negro são meus.)
Notas de rodapé: O "Ponto de Encontro" referido na entrevista são as instalações da Casa Municipal da Juventude em Cacilhas. Instalações que, na verdade, já tiveram melhores dias no que diz respeito à actividade cultural lá desenvolvida. Para dar um exemplo (que me diz respeito directamente): foi nesse espaço que nasceu, e se consolidou, o projecto Debaixo do Bulcão. A publicação apareceu pela primeira vez em 1996, numa Feira do Fanzine, um evento (e, já agora, - porque não dizê-lo? - um invento) que a Câmara Municipal organizava naquele espaço. Acresce que o Ponto de Encontro também era o que o nome sugere: um ponto de encontro, com uma sala-bar onde germinaram muitas das ideias que fizeram do associativismo juvenil almadense motivo de "inveja" para muita gente. Hoje já não o é. E tenho pena. Mas se calhar os jovens desta geração também não precisam de espaços desses. Se calhar a internet basta-lhes. Será isso?
António Vitorino
(Só mais uma coisinha: "detesto admitir" que o gajo tem razão, mas só porque não sou nada fã dos Moonspell. Já da verdade, sou adepto, sou sim senhor...)
(Afinal há ainda outra coisinha: a melhor banda gótica de sempre em Portugal foram os Trauma, uns gajos que faziam as primeiras partes dos Capela das Almas, não sei se estão a ver...)
«Almada sempre foi aquele grande pulmão criativo das coisas mais alternativas. Se querias saber o que se passava, ias a Almada.»
(Depois, faz uma referência aos Capela das Almas, que considera a melhor banda gótica de sempre em Portugal.
E prossegue:)
«Não sei como é hoje em dia, parece-me que, infelizmente, não tem aquela efervescência que tinha naquele tempo em que se ia ao Ponto de Encontro e estavam os Noctivagus a ensaiar cá em baixo, depois estava em cima não sei quem a fazer isto e depois estava outro a fazer... era uma coisa muito engraçada!
Na altura vivia na Brandoa e não havia nada disso, havia Moonspell a lutar com a Junta de Freguesia e a Câmara para não nos despejarem de onde estávamos e nós tinhamos inveja de Almada porque por muito modestas que fossem as condições pelo menos não havia aquela supermacia do género "isto não nos interessa para nada!".
Sempre houve, modesto ou elevado, uma espécie de investimento e não estou só a falar de dinheiro, de dependência das Câmara, porque pessoalmente nunca estou a contar com nada vindo que não seja só do nosso trabalho, do nosso esforço»
E, para finalizar as considerações sobre Almada:
«Basta ir no barco que vai logo pessoal de cabelo comprido, gótico, é assim uma cena muito engraçada nesse aspecto! A primeira maqueta de Moonspell foi gravada em Almada!
Nós por exemplo nunca tocámos no Ponto de Encontro, foi uma lacuna na nossa carreira, mas vi lá grandes concertos, a Feira do Metal e montes de coisas que existiam ali e em mais lado nenhum.»
(Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, em declarações à revista P'Almada, Março 2007.Os sublinhados a negro são meus.)
Notas de rodapé: O "Ponto de Encontro" referido na entrevista são as instalações da Casa Municipal da Juventude em Cacilhas. Instalações que, na verdade, já tiveram melhores dias no que diz respeito à actividade cultural lá desenvolvida. Para dar um exemplo (que me diz respeito directamente): foi nesse espaço que nasceu, e se consolidou, o projecto Debaixo do Bulcão. A publicação apareceu pela primeira vez em 1996, numa Feira do Fanzine, um evento (e, já agora, - porque não dizê-lo? - um invento) que a Câmara Municipal organizava naquele espaço. Acresce que o Ponto de Encontro também era o que o nome sugere: um ponto de encontro, com uma sala-bar onde germinaram muitas das ideias que fizeram do associativismo juvenil almadense motivo de "inveja" para muita gente. Hoje já não o é. E tenho pena. Mas se calhar os jovens desta geração também não precisam de espaços desses. Se calhar a internet basta-lhes. Será isso?
António Vitorino
(Só mais uma coisinha: "detesto admitir" que o gajo tem razão, mas só porque não sou nada fã dos Moonspell. Já da verdade, sou adepto, sou sim senhor...)
(Afinal há ainda outra coisinha: a melhor banda gótica de sempre em Portugal foram os Trauma, uns gajos que faziam as primeiras partes dos Capela das Almas, não sei se estão a ver...)
terça-feira, março 13, 2007
Soneto muito contemporâneo
explica-me lá essa história do branco é galinha o põe.
ou nunca viste um ovo acastanhado?
supões talvez que é um ovo estragado
como aqui ao meu lado alguém supõe?
ai ai esta cidade (esta idade) que a todos predispõe
a consumir sabedoria popular mas num invólucro esterilizado!
é o mal de seres um artista contemporâneo: já nasceste estilizado
carregado com os vinte quilos de bagagem cultural que a actualidade impõe.
e agora vais fazer uma arte agressiva uma abrupta
rotura com o passado inovadora e expedita
com os ovos e as caixas de ovos que conseguiste obter na luta
com o patrocinador e mecenas que em arte não acredita
mas que enfim lá deu a guita. (que grande filho da puta!)
para teu consolo abriu perto de ti uma loja que vende galinha frita.
António Vitorino
(Agosto 2003)
domingo, março 11, 2007
Portugal versus África do Sul e Portugal ganha (Portugal ganha, digo eu...)
Diz o major Valentim
que quer ser julgado na televisão porque nos tribunais não o levam a sério. (noticiado este fim de semana pela comunicação social)
Diz uma lenda zulu:
Há muito tempo, quando o país estava devastado, durante a guerra entre Umatiwane e Umpagazita, as pás chocalharam enquanto as pessoas cavavam. Elas olharam e as pás disseram: Estão a olhar para onde? Somos só nós, as pás. Depois um cão sentou-se e disse:
Madhladhla! não tens
pena do meu tesouro.
Canta comigo, Pai
sobre o filho de Ulxadhlakadhala
o seu filho único!
As pessoas disseram, ao ouvir a cantiga do cão:
Este país está perdido.
(África do Sul, Zulus Tradução de José Alberto Oliveira, em Rosa do Mundo - 2001 poemas para o Futuro edição Assírio e Alvim)
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sexta-feira, março 09, 2007
A primeira profecia de António Vitorino (ou se eu hoje sou assim a culpa é da Tonicha)!
Estrelando: Henrique Mendes, Ana Maria Lucas, Tonicha, António Vitorino, Nuno Gomes dos Santos.
Corria esse já muito remoto ano de 1971. Estava o António Vitorino com a família (enfim, uma parte dela, mas isso é outra estória) frente à televisão, que na altura só tinha dois canais (o primeiro e o segundo, mas o segundo não se apanhava lá muito bem) e era a preto e branco.
Estavam todos ali reunidos para ver o Festival RTP da Canção. Ver o Festival RTP da Canção era um ritual que as famílias faziam nesses tempos de obscurantismo.
Começa então o Festival RTP da Canção de 1971.
Entram os apresentadores, Henrique Mendes (não sei se conhecem, mas conhecem de certeza a sua prole) e Ana Maria Lucas.
Eles entram e, como lhes compete, apresentam os concorrentes.
Primeiro, aparece uma tal de Daphne ou lá o que era, a cantar já não sei o quê.
A seguir entra uma jovem chamada Tonicha.
Espera aí, uma jovem chamada Tonicha?
Pois.
É então que (momento histórico!) o António Vitorino (que, nessa altura, tinha apenas 7 aninhos, tenham isso em conta) dá um salto na cadeira, aponta para o écran do televisor (que, lembrem-se disto, era ainda a preto e branco) e diz (aliás, exclama, que é mais literário) é esta! é esta que vai ganhar!!!
Depois o festival lá continuou, aparece um grupo chamado Intróito, com um tal de Nuno Gomes dos Santos (não sei se conhecem... o António Vitorino era ainda muito pequenino para o conhecer...) depois aparecem outros e tal, por aí fora... tudo coisas sem interesse.
É que, como devem compreender, desde que apareceu aquela rapariga chamada Tonicha, o resto perdeu todo o interesse.
Pronto, chega aquela altura da votação, há ansiedade no ar, um clima de suspense e essas coisas. Mas o António Vitorino já sabia que quem ía ganhar era a Tonicha.
E, obviamente (duvidam das capacidades proféticas do António Vitorino?), a Tonicha ganhou!
E o António Vitorino passou desde então a apaixonar-se por todas as Tonichas que lhe apareciam à frente.
Portanto, está tudo explicado!
Ah pois, a canção que ela interpretou chama-se "Menina", e é assim:
Menina de olhar sereno
raiando pela manhã
de seio duro e pequeno
num coletinho de lã.
Menina cheirando a feno
casado com hortelã.
Menina que no caminho
vais pisando formusura
levas nos olhos um ninho
todo em penas de ternura.
Menina de andar de linho
com um ribeiro à cintura.
Menina da saia aos folhos
quem te vê fica lavado
água da sede dos olhos
pão que não foi amassado.
Menina do riso aos molhos
minha seiva de pinheiro
menina da saia aos folhos
alfazema sem canteiro.
Menina de corpo inteiro
com tranças de madrugada
que se levanta primeiro
do que a terra alvoraçada.
Menina de fato novo
ave-maria da terra
rosa brava rosa povo
brisa do alto da serra.
(Poema de José Carlos Ary dos Santos
Música de Nuno Nazareth Fernandes)
PS 1 - Já sei que alguns "jovenzitos" arrogantes vão dizer coisas bonitas sobre isto tudo e mais ainda sobre o que vem a seguir.
Mas para esses tenho duas "palavrinhas": descansem, que vossos filhos hão-de achar muito bonita a vossa época e muito edificante tudo o que vocês fizeram; por outro lado, lembrem-se que há sempre um balde de merda para cada arrogante ("jovenzito" ou não) e, se não houver, arranja-se.
PS 2 - Para quem me conhece (inclui "jovenzitos" arrogantes, mas não só): se eu não faço voz grossa, não me ponho em bicos de pés e não me esforço por parecer interessante, não é porque não o consiga fazer, mas apenas porque não estou para ser confundido com imbecis e filhos da puta.
No entanto, se quiserem saber mais alguma coisa a meu respeito perguntem com jeitinho, que eu talvez vos esclareça. Mas não inventem, senão ainda terei que vos dedicar este poema do Affonso Gallo.
Corria esse já muito remoto ano de 1971. Estava o António Vitorino com a família (enfim, uma parte dela, mas isso é outra estória) frente à televisão, que na altura só tinha dois canais (o primeiro e o segundo, mas o segundo não se apanhava lá muito bem) e era a preto e branco.
Estavam todos ali reunidos para ver o Festival RTP da Canção. Ver o Festival RTP da Canção era um ritual que as famílias faziam nesses tempos de obscurantismo.
Começa então o Festival RTP da Canção de 1971.
Entram os apresentadores, Henrique Mendes (não sei se conhecem, mas conhecem de certeza a sua prole) e Ana Maria Lucas.
Eles entram e, como lhes compete, apresentam os concorrentes.
Primeiro, aparece uma tal de Daphne ou lá o que era, a cantar já não sei o quê.
A seguir entra uma jovem chamada Tonicha.
Espera aí, uma jovem chamada Tonicha?
Pois.
É então que (momento histórico!) o António Vitorino (que, nessa altura, tinha apenas 7 aninhos, tenham isso em conta) dá um salto na cadeira, aponta para o écran do televisor (que, lembrem-se disto, era ainda a preto e branco) e diz (aliás, exclama, que é mais literário) é esta! é esta que vai ganhar!!!
Depois o festival lá continuou, aparece um grupo chamado Intróito, com um tal de Nuno Gomes dos Santos (não sei se conhecem... o António Vitorino era ainda muito pequenino para o conhecer...) depois aparecem outros e tal, por aí fora... tudo coisas sem interesse.
É que, como devem compreender, desde que apareceu aquela rapariga chamada Tonicha, o resto perdeu todo o interesse.
Pronto, chega aquela altura da votação, há ansiedade no ar, um clima de suspense e essas coisas. Mas o António Vitorino já sabia que quem ía ganhar era a Tonicha.
E, obviamente (duvidam das capacidades proféticas do António Vitorino?), a Tonicha ganhou!
E o António Vitorino passou desde então a apaixonar-se por todas as Tonichas que lhe apareciam à frente.
Portanto, está tudo explicado!
Ah pois, a canção que ela interpretou chama-se "Menina", e é assim:
Menina de olhar sereno
raiando pela manhã
de seio duro e pequeno
num coletinho de lã.
Menina cheirando a feno
casado com hortelã.
Menina que no caminho
vais pisando formusura
levas nos olhos um ninho
todo em penas de ternura.
Menina de andar de linho
com um ribeiro à cintura.
Menina da saia aos folhos
quem te vê fica lavado
água da sede dos olhos
pão que não foi amassado.
Menina do riso aos molhos
minha seiva de pinheiro
menina da saia aos folhos
alfazema sem canteiro.
Menina de corpo inteiro
com tranças de madrugada
que se levanta primeiro
do que a terra alvoraçada.
Menina de fato novo
ave-maria da terra
rosa brava rosa povo
brisa do alto da serra.
(Poema de José Carlos Ary dos Santos
Música de Nuno Nazareth Fernandes)
PS 1 - Já sei que alguns "jovenzitos" arrogantes vão dizer coisas bonitas sobre isto tudo e mais ainda sobre o que vem a seguir.
Mas para esses tenho duas "palavrinhas": descansem, que vossos filhos hão-de achar muito bonita a vossa época e muito edificante tudo o que vocês fizeram; por outro lado, lembrem-se que há sempre um balde de merda para cada arrogante ("jovenzito" ou não) e, se não houver, arranja-se.
PS 2 - Para quem me conhece (inclui "jovenzitos" arrogantes, mas não só): se eu não faço voz grossa, não me ponho em bicos de pés e não me esforço por parecer interessante, não é porque não o consiga fazer, mas apenas porque não estou para ser confundido com imbecis e filhos da puta.
No entanto, se quiserem saber mais alguma coisa a meu respeito perguntem com jeitinho, que eu talvez vos esclareça. Mas não inventem, senão ainda terei que vos dedicar este poema do Affonso Gallo.
terça-feira, março 06, 2007
Norte por Noroeste
nestes longos campos de milho
abrasados pelo fogo
nestes largos campos de milho
ao sol de agosto
nestes rasos campos de milho
sedentos de vingança
nestes áridos campos de milho
sem uma gota de orvalho
nestes intermináveis campos de milho
que se alongam só no meu pensamento
nestes oh tão indolentes
e tão absurdamente falsos campos de milho
descobri
finalmente
o quanto a minha vida se resume
a uma aparentemente interminável
chatice
nestes sinceramente monótonos campos de milho
e nem há a merda de um avião
(de preferência biplano e fácil de manobrar)
que venha para cima de mim
e me faça pelo menos
levantar o rabo da cadeira
e correr
nestes tão absurdamente crus campos de milho,
passa-me aí as pipocas.
António Vitorino
(Fevereiro 2007)
North by Northwest (1959)
Alfred Hitchcock
E a famosa cena do avião
(que, como hão-de reparar, não corresponde àquilo que eu conto,
grande aldrabão que eu sou):
www.youtube.com/watch?v=uDt1dYwA4A8
segunda-feira, março 05, 2007
Sermão do Velho do Restelo aos pombos
pacotilha de pacóvios. empacotar
é o que sabem fazer, empacotar os versos
que outros papam que nem patos.
isto disse o velho do restelo na sua
mais recente encarnação. estava junto ao lago
do jardim de almada a dar milho a pombos.
bem o vi: olhei-me ao espelho. e, caramba
sabem quem estava junto dele? nicolau tolentino
de braço às musas dado. e bocage
esse chato que aparece sempre nas minhas
melhores composições poéticas.
António Vitorino
(Fevereiro 1997)
é o que sabem fazer, empacotar os versos
que outros papam que nem patos.
isto disse o velho do restelo na sua
mais recente encarnação. estava junto ao lago
do jardim de almada a dar milho a pombos.
bem o vi: olhei-me ao espelho. e, caramba
sabem quem estava junto dele? nicolau tolentino
de braço às musas dado. e bocage
esse chato que aparece sempre nas minhas
melhores composições poéticas.
António Vitorino
(Fevereiro 1997)
sexta-feira, março 02, 2007
Bento
Assim, sem que nenhum de nós esperasse, desaparece o grande Manuel Galrinho Bento.
O Bento! Guarda-redes do Benfica e da Selecção Nacional.
Para os mais novos, que nunca o viram jogar, digamos que tinha o virtuosismo e a espectacularidade de um Ricardo Quaresma ou de um Cristiano Ronaldo e a persistência, capacidade de trabalho e talento de um Luís Figo.
Só que, ainda por cima, era guarda-redes!
Manuel Galrinho Bento
(25 Junho 1948 - 1 Março 2007)
Nota biográfica, na Wikipédia:
pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bento
PS: O Bento foi um dos meus "ídolos", desde um inesquecível jogo do Benfica contra o Torpedo de Moscovo, lá para os anos 70. Jogo que acompanhei via rádio (nesse tempo as transmissões televisivas eram mais raras e, na rádio, sem qualquer recurso a imagens, a emoção era diferente). Na Luz, as equipas tinham empatado. Já em Moscovo no estádio do Torpedo, o Bento não só defendeu tudo o que havia a defender (o jogo terminou empatado a zero) como ainda defendeu penaltis e marcou o penalti decisivo (lembram-se do Ricardo no Euro 2004? pois, foi mais ou menos a mesma coisa, só que o Bento não tirou as luvas).
O Bento foi também o meu modelo enquanto guarda-redes.
Sim, eu sei que vocês, os que só me conhecem agora, não acreditam, mas eu fui guarda-redes. E não devia ser muito mau, visto que os que jogavam contra mim me chamavam Dassaev (alusão a Rinat Dassaev, famoso guarda-redes soviético, do Spartak de Moscovo e da respectiva selecção). Claro, chamavam-me assim para "gozar" com as minhas referências político-ideológicas. Mas isso era antes do jogo. Depois, os que me defrontavam deviam chamar-me outras coisas.
Modéstia à parte... eu era bom, e o Bento era o meu ídolo!
António Vitorino
O Bento! Guarda-redes do Benfica e da Selecção Nacional.
Para os mais novos, que nunca o viram jogar, digamos que tinha o virtuosismo e a espectacularidade de um Ricardo Quaresma ou de um Cristiano Ronaldo e a persistência, capacidade de trabalho e talento de um Luís Figo.
Só que, ainda por cima, era guarda-redes!
Manuel Galrinho Bento
(25 Junho 1948 - 1 Março 2007)
Nota biográfica, na Wikipédia:
pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bento
PS: O Bento foi um dos meus "ídolos", desde um inesquecível jogo do Benfica contra o Torpedo de Moscovo, lá para os anos 70. Jogo que acompanhei via rádio (nesse tempo as transmissões televisivas eram mais raras e, na rádio, sem qualquer recurso a imagens, a emoção era diferente). Na Luz, as equipas tinham empatado. Já em Moscovo no estádio do Torpedo, o Bento não só defendeu tudo o que havia a defender (o jogo terminou empatado a zero) como ainda defendeu penaltis e marcou o penalti decisivo (lembram-se do Ricardo no Euro 2004? pois, foi mais ou menos a mesma coisa, só que o Bento não tirou as luvas).
O Bento foi também o meu modelo enquanto guarda-redes.
Sim, eu sei que vocês, os que só me conhecem agora, não acreditam, mas eu fui guarda-redes. E não devia ser muito mau, visto que os que jogavam contra mim me chamavam Dassaev (alusão a Rinat Dassaev, famoso guarda-redes soviético, do Spartak de Moscovo e da respectiva selecção). Claro, chamavam-me assim para "gozar" com as minhas referências político-ideológicas. Mas isso era antes do jogo. Depois, os que me defrontavam deviam chamar-me outras coisas.
Modéstia à parte... eu era bom, e o Bento era o meu ídolo!
António Vitorino
quinta-feira, março 01, 2007
Lição de hoje, por AV
é preciso mantermo-nos jovens:
"não penses numa coisa durante mais de
duas horas", aconselhava manzarin.
maquiavel, que era muito mais esperto
ensinou lourenço de medici a ser cruel
pois "o homem de bem perde-se entre outros tantos
que não são bons", dizia ele (cito de memória).
meninos, meditem no caso
mas não durante mais de dois minutos
depois já podem ir ver o tal filme
chamado cyborg
ou a estória de uma garrafa de cerveja forte
nos cornos.
AV
(Fevereiro 1997)
E agora,
amiguinhos,
cliquem nas imagens
(não é nesta, estúpidos,
é nas que estão mais abaixo)
para lerem os seguintes calhamaços,
os quais muito vos irão interessar,
certamente:
Breviario dei Politici
(texto integral, em italiano)
O Príncipe
(excertos da obra,
versão portuguesa)
...e ainda...
Maquiavel n'O Portal da História
"não penses numa coisa durante mais de
duas horas", aconselhava manzarin.
maquiavel, que era muito mais esperto
ensinou lourenço de medici a ser cruel
pois "o homem de bem perde-se entre outros tantos
que não são bons", dizia ele (cito de memória).
meninos, meditem no caso
mas não durante mais de dois minutos
depois já podem ir ver o tal filme
chamado cyborg
ou a estória de uma garrafa de cerveja forte
nos cornos.
AV
(Fevereiro 1997)
E agora,
amiguinhos,
cliquem nas imagens
(não é nesta, estúpidos,
é nas que estão mais abaixo)
para lerem os seguintes calhamaços,
os quais muito vos irão interessar,
certamente:
Breviario dei Politici
(texto integral, em italiano)
O Príncipe
(excertos da obra,
versão portuguesa)
...e ainda...
Maquiavel n'O Portal da História
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