sexta-feira, janeiro 19, 2007
Um rapaz brilhante
eu só não sei ser sincero
como convém ao poeta
mas não sou nada intrigante.
posso ser algo irritante
e quando menos o espero
acertar feito profeta
nas palpitações da vida:
quando acerto acerto a eito.
mas tu não tens o direito
de me considerar pedante:
chamaste-me extravagante?
eu cá já não desespero
com opiniões insuspeitas:
essa coisa já me enfada
não lhe dou valor nem nada.
eu sou afinal um vero
artífice das provetas
de uma poesia fingida:
os meus versos só enfeito
com uma vida sem proveito.
não faças pois peixeirada
por eu ter uma noitada.
só na noite eu me esmero:
a noite é minha placenta
à qual regresso durante
toda a noite e alvorada.
eu bebo o vinho de homero
sempre que em mim algo intenta
dar-me lições de sofrida
poesia que muito enjeito.
tenho um brilho no meu peito
posto que à noite me enfeito.
eu sempre à noite me activo:
sou poeta radioactivo
já ninguém me ensina nada.
eu sou um rapaz brilhante:
recolho de madrugada.
Affonso Gallo
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5 comentários:
Às vezes és brilhante...
Amigo Luís Milheiro, eu fico quase sem palavras... Epá, obrigado pelo elogio. Gostava mesmo de o merecer. A sério... Mas espero que entendas (e entendam) que o poema não é nenhum auto-elogio. É mais uma brincadeira, ou melhor, uma pequenina crítica aos gajos que gostam muito de se armar em bons, de exibir aquilo que afinal não têm, etc.
António Vitorino
Parabéns, Vitorino. A tua poesia dispensa quaisquer palavras de cortesia... ela apresenta-se a si própria.
Fiquei satisfeitíssima por ver uma foto minha a ilustrar esta poesia. Obrigada (e, sobretudo, pela honestidade intelectual - coisa rara hoje em dia).
Quanto ao teu poema só posso dizer... és mesmo "um rapaz brilhante", nunca duvides disso!
Vossemecês estragam-me com mimos! Não havia necessidade!...
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