sexta-feira, dezembro 14, 2012

O "fim do mundo" e o jornalismo parolo

Notícia encontrada no site do jornal Público: "Guitarrista dos Radiohead espera fim do mundo no Brasil. Johnny Greenwood está a morar num hotel situado no interior de São Paulo, há um mês, e aguarda pela profecia Maia, que aponta 21 de dezembro como dia do apocalipse."

A notícia sobre a estadia do músico no Brasil "à espera do fim do mundo" (notícia que não apareceu apenas neste jornal, como é óbvio) já foi desmentida entretanto.

Mas não é isso o que me interessa.

Há quem acredite que os Maias previram o fim do mundo, tal como há quem acredite que existe o Pai Natal (o Papai Noel, para os amigos no Brasil) ou os unicórnios, ou o Monstro de Loch Ness (se bem que este último não seja completamente absurdo). O guitarrista dos Radiohead teria todo o direito de estar mal informado e agir de acordo com os mitos em que acredita - se fosse esse o caso.

O que me parece grave - e estúpido - é que os jornalistas acreditem nisso.

Porque "a profecia Maia, que aponta 21 de dezembro como dia do apocalipse" não é, na verdade, nenhuma profecia dos Maias: é um guião de um filme de Hollywood!

Que as pessoas nesta "sociedade da informação" estejam tão mal informadas a ponto de confundirem produções de Hollywood ou tretas do facebook com a realidade... enfim, é uma tristeza, mas já me vou habituando a isso.

Mas os jornalistas!? Os que têm a obrigação de confirmar o que lhes é dito antes de passarem essa informação ao público?...

E note-se que esta notícia - que apresento como mero exemplo, sem querer fazer uma crítica especificamente ao jornal ou à jornalista em questão - está longe de ser caso único! Nos últimos dias vi multiplicarem-se em respeitáveis órgãos de comunicação, títulos como "os maias dizem que afinal 21 de dezembro não é o fim do mundo" (como se alguma vez tivessem dito que era!).
Substituiu-se o trabalho jornalístico sério, que procura fontes credíveis e confirma a informação antes de a publicar, por mitos cinematográficos e memes da internet? É nisto que estamos?

Não há pachorra para tanta parolice e tanto folclore!

Hei-de voltar a este assunto, que merece ser melhor analisado. Um dia destes, depois do "fim do mundo".

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Joaquim Benite (1943 - 2012)

"O teatro, sendo também uma indústria e um comércio é, acima de tudo, uma forma de arte. Tem de haver espaços de liberdade para todos os criadores. Mas nós vivemos num país onde muitas vezes existe um grande sectarismo de análise, onde as pessoas ainda puxam muito pelos seus próprios interesses.  

Eu penso que é da confrontação de experiências, de linguagens e das várias formas de interpretar o mundo (porque no fundo é disso que se trata) que pode nascer algo de positivo. É assim que nos enriquecemos e modificamos: o contacto entre artes gera conexões mútuas em que todos beneficiamos.

Penso também que o teatro é uma prática que se exerce no campo da moralidade, não no sentido religioso do termo, mas no que diz respeito aos comportamentos e maneiras de viver. Não se faz espectáculos se não com o intuito de influir no gosto, no pensamento, nos costumes das pessoas"


Entrevista à revista Sem Mais, em Julho de 1996
texto completo aqui:
http://vitorinices2.blogspot.pt/2012/12/joaquim-benite-em-1996.html