segunda-feira, julho 12, 2010

Sobre teatro em Almada - o "moral" e o Azul


Está a decorrer mais uma edição do Festival de Teatro de Almada. É a 27ª e realiza-se nas datas habituais: entre 4 e 18 de Julho.

O festival é o ponto alto da relação da Companhia de Teatro de Almada (CTA) com o público da cidade (e com todo o outro...). Mas este ano realiza-se no meio de alguma polémica sobre o "Teatro Azul" - a sala, municipal, cedida à CTA, onde esta desenvolve o seu trabalho.

Há quem questione a gestão daquele equipamento. Há quem pergunte porque está uma sala municipal "entregue" a uma única companhia. E há mesmo quem diga que a CTA não tem o direito de ocupar aquele espaço, e que, portanto, devia sair para dar lugar a outros.

A gestão da sala é assunto cujo esclarecimento compete à Câmara (proprietária) e à CTA (que usufrui da dita) - e suponho que já o têm feito.

Quanto à legitimidade que a Companhia tem para ocupar aquele espaço, penso que posso dar uma ajuda: tem legitimidade, moral (digamos assim), pois a ideia de construir aquele edifício cultural, e o empenhamento para que fosse construído, partiu, precisamente, deles!

Nesta página do Jornal da Região de Almada - de 27 de Junho de 2001 - Joaquim Benite (director da CTA) mostrava a maquete do que viria a ser o futuro "Teatro Azul". Na entrevista (feita por mim, sim...), Benite falou muito de teatro e das suas relações com o jornalismo, ou da forma como pode ser, também, desencadeador de "transformações na sociedade", enquanto "prática moral" - esta citação é de outra entrevista com Benite, mas aplica-se aqui - que tem o objectivo de "inquietar as pessoas, fazê-las perceber que há mais horizontes para lá da vida prática, quotidiana", e não deixar acomodar ninguém ("as pessoas" e "o poder") porque "a arte é problema".

Benite não falou prolongadamente sobre o projecto da futura sala (talvez porque, naquele contexto, não me pareceu interessante desenvolver muito o tema). Mas o pouco que aqui é referido - e a História contada para contextualizar o assunto - parece-me ser já o suficiente para, pelo menos, esclarecer a dúvida (se é que se trata mesmo de uma dúvida) sobre a relação intrínseca que existe, desde a primeira hora, entre o Teatro Azul e a Companhia de Teatro de Almada. A sala é municipal porque foi construida pela Câmara, e é "da" CTA porque esta tem a "propriedade" intelectual (não sei se é o termo jurídico adequado, mas de facto é mesmo assim) do projecto.

Ignorar isto é mais que falta de cultura, ou falta de memória: é falta de honestidade política. E é, portanto, imoral.

3 comentários:

Luis Eme disse...

é a primeira vez que leio algo sobre o assunto, Vitorino.

pot isso pergunto, quem é que em Almada tem legitimidade e condições para gerir o teatro azul, além da CTA?

as únicas coisas que tenho escutado é a disparidade de valores gastos com o CTA e com o resto da cultura almadense. isso sim é tema que merece discussão.

Debaixo do Bulcão disse...

e eu escrevi isto porque, por incrível que pareça, tenho lido e ouvido opiniões de quem "não entende" porque está aquele equipamento municipal entregue à CTA. há gente muito distraída. ou inculta?

quanto ao resto, claro que deve ser discutido. tudo deve ser discutido.

mas com argumentos sérios.

Debaixo do Bulcão disse...

além disso, dá-me sempre algum "gozo" lembrar a certos "poderosos" (ou aspirantes a isso) cá do burgo que se alguém caiu aqui de pára-quedas para mandar postas de pescada não fui eu, de certeza. já ando nestas coisas há uns anitos.

;)