Do sol aos férvidos beijos
Vão lourejando os trigaes,
E brotam vagos desejos
Nos corações virginaes.
Cantando alegres cantigas
Levam noites a dançar,
Rapazes e raparigas
Á branca luz do luar.
Quantas promessas ardentes
Lá vão trocando em segredo
Os namorados frementes,
Por entre o basto arvoredo!
Sobre os campos vicejantes
Voam perfumes suaves,
Que embriagam os amantes
E que entontecem as aves.
Mas de dentro de alguns ninhos
Sae um triste pipilar:
São os pobres passarinhos
Que inda não sabem voar.
Ó mulher, que és doce e boa,
Acreditas n’este horror:
Uma aza que não voa,
Um coração sem amor?
Zélio
1 comentário:
A propósito, e como quem não quer a coisa:
Recebi, por e-mail, a famosa "petição contra o acordo ortográfico", em cujo texto de apresentação aparecem pérolas do seguinte teor:
«PETIÇÃO CONTRA O NOVO ACORDO ORTOGRTAFICO PORTUGUES
(BRASILEIROS QUEREM DOMINAR A LINGUA DE CAMÕES)
Eu não sou uma chave-de-bôcas 12/13! Recuso-me a ser
Standertizado
DIGAM NÃO a este Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa! Húmido sem 'h'? Facto sem 'c'? Afinal onde fica a etimologia das palavras? A lingua tão bem tratada por Camões nasceu em Portugal ou no
Brasil? Vamos-nos deixar levar 'evolução' daqueles que falam o 'português do Brasil' ? Pois eu continuarei, orgulhosamente a escrever Humidade, Húmido, faCto, aCto, aCção!!!»
...
Sem me alongar em comentários (porque a tanta parvoíce ou se responde de maneira detalhada ou não se responde de todo), faço, no entanto, a pergunta que se impõe: o que é afinal, a "língua de Camões"? O português do século 16?
Então este poema, do século 19, é o quê?
(E é claro que mandei a petição de regresso à procedência, sem a assinar...)
António Vitorino
Enviar um comentário